José Maria Ferreira de Castro (Ossela, Oliveira de Azeméis, 24 de Maio de 1898 — Porto, 29 de Junho de 1974) foi um escritor português.
Filho mais velho de José Eustáquio Ferreira de Castro, natural de Oliveira de Azeméis, e de Maria Rosa Soares de Castro, natural de Vila Chã (Vale de Cambra).[1] Aos 8 anos ficou órfão de pai, um camponês pobre e decide, aos 12 anos, emigrar com a intenção de sustentar a família. A 7 de Janeiro de 1911 embarcou no vapor "Jerôme" com destino a Belém do Pará, no Brasil.[2] Ali viria a publicar o seu primeiro romance Criminoso por ambição, em 1916.
Durante quatro anos viveu no seringal Paraíso, em plena floresta amazónica, junto à margem do rio Madeira. Depois de partir do seringal Paraíso, viveu em precárias condições, tendo de recorrer a trabalhos como, colar cartazes, embarcadiço em navios do Amazonas etc.
Mais tarde, em Portugal, foi redator do jornal O Século, do jornal A Batalha,[3] diretor do jornal O Diabo e colaborador das revistas O domingo ilustrado[4] (1925-1927), Renovação (1925-1926)[5] e Ilustração[6] (iniciada em 1926). Ao serviço do jornal de Pereira da Rosa, assinou crônicas vibrantes, como o dia em que se deixou prender no Limoeiro para testemunhar a vida dos reclusos nas cadeias portuguesas ou a sua entrevista exclusiva em Dublin com Eamon de Valera, líder do Sinn Fein em 1930.[7]
Em 1930 publica A Selva, a obra que o tornaria um escritor de dimensão internacional, inclusive candidato a Prêmio Nobel. O livro recebe críticas positivas no The New York Times e abre-lhe caminho em Hollywood e possibilita-lhe o ingresso no Pen Clube francês. Nessa altura perde tragicamente a esposa, Diana de Liz, a quem dedicou o livro.
Após o falecimento da esposa, Ferreira de Castro partiu para Inglaterra de barco, na companhia do escritor Assis Esperança. Fica doente, com septicemia, mas é tratado pelo médico e historiador de arte Reynaldo dos Santos. Em consequência do estado de luto, em Dezembro de 1931 Ferreira de Castro tenta o suicídio sem sucesso. Para convalescer parte para a Madeira, onde escreve o romance Eternidade (1933), cujo tema é a obsessão pela morte.[8]
Ferreira de Castro ordenou a transladação dos ossos de Diana de Liz e erigiu-lhe um mausoléu.
Morreu a 29 de junho de 1974, no Hospital de Santo António, no Porto, depois de ter sofrido um acidente vascular cerebral, em Macieira de Cambra, a 5 de junho, que o deixou em coma.[9] Chegou a desfilar no 1º de Maio, Dia do Trabalhador, o primeiro após a Revolução de 25 de Abril de 1974. Encontra-se enterrado em Sintra, por sua expressa vontade.
Vida pessoal
Entre 1927 e 1930, teve um relacionamento com Diana de Liz - pseudónimo de Maria Eugénia Haas da Costa Ramos -, escritora, defensora da emancipação feminina, nascida em Évora, freguesia de São Pedro, a 29 de março de 1892, filha de Zacarias José da Costa Ramos, capitão de Cavalaria, e de D. Margarida Amélia Haas da Costa Ramos, e que morreu em maio de 1930, vítima de tuberculose.[10][11][12]
A 17 de outubro de 1936, casou, na 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, em regime de separação de bens, com Fernanda das Dores Mercier Marques, natural da freguesia de Santos-o-Velho, Lisboa, filha de José Maria Marques, natural da freguesia de Santa Isabel, Lisboa, e de Eugenie Georgette Amélie Mercier Marques, natural de Saint-Germain-des-Prés (Paris). A 10 de novembro de 1937, foi decretado o divórcio por sentença do Juízo de Direito da 4.ª Vara da Comarca de Lisboa, com fundamento em adultério do cônjuge masculino (n.º 2 do artigo 4.º da Lei do Divórcio, aprovada por decreto de 3 de novembro de 1910).[13]
Voltou a casar em Paris, em 1938, com Elena Muriel, pintora espanhola refugiada no Estoril.[9] Com ela viveu 40 anos e teve uma filha, Elsa Beatriz Ferreira de Castro.
Relevância da obra
Emigrante, homem do jornalismo, mas sobretudo ficcionista, é hoje em dia, ainda, um dos autores com maior obra traduzida em todo o mundo, podendo-se incluir a sua obra na categoria de literatura universal moderna, precursora do neorrealismo, de escrita caracteristicamente identificada com a intervenção social e ideológica.
A exemplo da sua ainda grande atualidade pode referir-se a recente adaptação ao cinema, com muito sucesso, da obra A Selva.
Casa-Museu Ferreira de Castro
Localiza-se na Rua Escritor Ferreira de Castro, em Ossela.[14]
Ferreira de Castro, um dos maiores vultos de sempre da cultura portuguesa, era um trabalhador incansável, na verdadeira acepção do termo.
Não dispondo ou não querendo utilizar máquina de escrever e ainda a uma enorme distância dos nossos computadores, veja-se a montanha de papel que Ferreira de Castro, laboriosamente, escreveu, para produzir uma das suas mais importantes obras: " As Maravilhas Artísticas do Mundo".
Em 1967, Ferreira de Castro doa a propriedade à autarquia, que se comprometeu, desde essa data, a mantê-la e conservá-la, proporcionando visitas guiadas a todos que o quisessem fazer.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ferreira_de_Castro